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Discurso de Encerramento

Meus caros, leiam na íntegra o discurso de encerramento proferido pelo Secretário-Geral Gabriel Pimenta.

“Caros,

Cinco dias são muito pouco tempo. Especialmente agora, quando a geração recém-nascida deverá viver por volta de noventa anos. Cinco dias são nada além de gotas no vazar da oceânica clepsidra das nossas vidas. Porém, cinco dias podem ser muito mais significativos que anos inteiros. Revoluções podem durar apenas cinco dias, mas perdurar por séculos. Em muito menos de cinco dias o poderio bélico contemporâneo pode aniquilar a vida no planeta. Nesse período curtíssimo, vidas podem mudar, vocações podem ser descobertas, amores podem ser encontrados ou desfeitos. E tenho certeza que estes últimos cinco dias foram, para todos nós, desse tipo especial de tempo, cuja relevância é infinitamente maior que a duração.

Durante o MINI-ONU vocês puderam chegar bem mais perto do fascinante mundo da política internacional, não apenas como meros observadores, mas executores, efetivos sujeitos cujo fruto do trabalho refletirá mundialmente. Emaranharam-se na complexidade dos temas globais, emergindo às vezes com soluções criativas, às vezes de mãos vazias, atordoados pela intrincada trama de interesses e conseqüências. Ganharam experiência como oradores, negociadores e especialmente como cidadãos. Aprenderam com cada minuto, seja através das discussões políticas, seja com as interações humanas, tão ou até mesmo ainda mais importantes que os lobbies e negociatas. Saíram daqui sem dúvida alguma maiores.

Faço aqui um breve parêntesis, se vocês me permitem, para dizer que este discurso, tão laudatório ao evento, não é imbuído em instante algum de falsa retórica. Faço todos estes elogios ao modelo com a convicção de quem está no sexto MINI-ONU consecutivo, duas vezes como delegado e quatro vezes como membro da organização. Falo com a paixão de quem entrou quase por engano no evento, e de quem se despede, quando do término deste discurso, com um doído aperto no coração. Pois hoje me despeço, seis anos mais velho, mas décadas mais experiente, do MINI-ONU. Digo adeus comovido, como quem se despede de um ente querido. Talvez estaria dizendo adeus a um filho, que vi crescer e mudar, mas não. O MINI-ONU é muito maior que eu, ou qualquer um de nós. Despeço-me dele como quem diz adeus a alguém que mudou muito a minha vida, me ensinou o valor do trabalho, do esforço e da amizade, me fez crescer. Despeço-me do MINI-ONU como quem diz adeus a um pai.

Porém, nenhuma fração desta experiência inesquecível seria possível sem o árduo labor de dois grupos, diametralmente opostos, mas inexoravelmente complementares. O primeiro, os membros da organização. Não citarei ninguém nominalmente, pois ao fazer isto eu correria o risco de esquecer uma só pessoa, e isto seria mais que um lapso, seria sim um pecado mortal. Porque todos os que verdadeiramente se dedicaram ao MINI-ONU são engrenagens fundamentais para que esta máquina funcione. Os amigos voluntários, nossos músculos, nossos braços e pernas, que em sua humildade a servir a todos, sabem que nada é mais recompensador que o trabalho bem executado. Os amigos diretores assistentes, que assumiram muitas vezes o fardo de levarem o comitê adiante, sem qualquer exigência em troca. Os amigos diretores, nossos cérebros pulsantes e pulsos de ferro, que compreenderam que seu trabalho servirá de exemplo para muitos, e que tendo à frente tal desafio, responderam com trabalhos de nível elevadíssimo e uma dedicação raramente vista. E por fim os colegas da coordenação, que ao longo dos últimos doze meses se mostraram muito mais do que uma equipe de trabalho, e sim uma fraternidade. Uma fraternidade que empregou todos os seus esforços para um único objetivo: realizar um MINI-ONU histórico.

Segundo, os delegados. Mais uma vez não posso agradecer nominalmente a cada um de vocês, já que um discurso que tentasse citar novecentos e setenta e três nomes seria algo irracional. Porém saibam que se pudesse, eu agradeceria a todos pessoalmente. Aos que estão aqui pela primeira vez, pela coragem de tentar algo novo. Aos que retornaram, pela oportunidade que vocês nos dão de saber que estamos trilhando o caminho correto. E a todos, todos, pela audácia de imaginar conosco durante estes cinco dias um mundo no qual o diálogo é sempre a melhor ferramenta. Um mundo onde a política não é iniqüidade, mas sim meio legítimo. Um mundo onde o valor da força é sempre sobrepujado pela força dos valores.

Declaro portanto encerrado o MINI-ONU 10 Anos.”

Discurso do Sr. Ministro Celso Amorim

Transcrição do discurso proferido pelo excelentíssimo Sr. Celso Luiz Nunes Amorim, Ministro das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, à ocasião da cerimônia de abertura da décima edição do Modelo Intercolegial das Nações Unidas – MINI-ONU. Transcrição feita pelo Diretor-Assistente Thiago Xavier, contribuíram as voluntárias Cecília Braga e Elis Rocha.
 
“(Cumprimentos e agradecimentos)
Em primeiro lugar, eu queria dizer que, embora  devido à idade dos participantes, este evento possa efetivamente chamar-se MINI-ONU; do ponto de vista do entusiasmo e da participação eu acho que ele deveria se chamar Maxi-ONU.
 (aplausos efusivos)
Eu infelizmente não posso deixar de mencionar uma nota triste, mas é uma nota que também, de alguma maneira, se relaciona com o que vocês vão fazer nos próximos dias, sobre os temas sobre os quais vocês vão refletir. Hoje, por volta das quatro horas da tarde, caiu no Haiti um avião das Nações Unidas, da MINUSTAH, força de paz das Nações Unidas, onde havia 11 pessoas, entre uruguaios – nossos irmãos uruguaios, próximos de nós – e jordanianos. Não havia brasileiros, embora o Brasil seja o país com maior participação nas forças de paz. Eu acho que esse evento triste demonstra que lutar pela paz no mundo é algo que se faz, naturalmente, na mesa de negociação, se faz com discussão, se faz com reflexão; mas se faz muitas vezes com sacrifícios e às vezes até mesmo com sacrifícios da própria vida. Nós sabemos que tivemos um grande compatriota, Sérgio Vieira de Mello, que foi também um grande lutador pela paz e que morreu num atentado terrorista bárbaro no Iraque. Tudo isso nos faz pensar um pouco o sentido das Nações Unidas. Na realidade, o que eu vou dizer está contido nos vários discursos que foram feitos aqui hoje, mas cada pessoa tem sua maneira de dizer as coisas. Um dos oradores se referiu à Liga das Nações, ao período entre guerras, e isso me faz pensar também no nome de um filme – eu sempre tive uma ligação muito forte com o cinema e com a literatura, especialmente com o cinema, tanto que até chegar às Relações Internacionais e ao desejo de contribuir para a paz, com esse humanismo que muitas vezes nós podemos depreender da literatura e do cinema – e é um filme muito importante, de 1938, se não me engano, que se chamava “A Grande Ilusão”. E nunca se explica, no filme, o que é a grande ilusão. Mas, presume-se que a grande ilusão seja justamente a idéia de que a guerra anterior, a Primeira Guerra Mundial seria, como muitos diziam, a “Guerra para acabar com todas as guerras”. Na realidade, não era assim, no ano seguinte eclodia a Segunda Guerra Mundial, que viria a ser a maior de todas as guerras.
A ONU existe para evitar que isso ocorra. A Liga das Nações não conseguiu evitar – tentou. Mas ainda de maneira imperfeita, por motivos históricos que não nos cabe aqui, numa breve palestra mencionar. Mas as Nações Unidas nasceu, de certa maneira, não ainda das cinzas, mas das brasas da guerra que continuavam acesas quando ela ainda foi criada, quando a idéia das Nações Unidas foram lançadas; mas lá depois então do final da guerra, na Conferência de São Francisco, foi criada a Organização das Nações Unidas. E ela foi criada com esse objetivo, o objetivo de garantir a paz. Eu costumo dizer que tem certas coisas cujo valor nós só percebemos quando faltam. É o caso do ar que se respira. Quem percebe o valor do ar? Quem cobra?  Ainda, pelo menos, nem o capitalismo mais selvagem consegue cobrar pelo ar. O ar, nós só percebemos o valor dele quando falta. Falta o ar e nós dizemos “puxa vida, tem alguma coisa errada”. A mesma coisa se pode dizer da liberdade. Durante boa parte da minha vida jovem, até meus 21 ou 22 anos, o Brasil vivia num clima de democracia – mas isso era normal, nós achávamos que democracia era uma coisa que não tinha, a rigor, importância. Porque nós, pelo menos nós da nossa idade, não conhecíamos outra forma de viver. Foi só depois dos anos sombrios de ditadura e regime autoritário, regime militar, torturas e mortes, é que nós conseguimos apreender totalmente o valor da liberdade. E o mesmo se pode dizer da paz. Quando nós vivemos em paz, quando tomamos nossos aviões para irmos fazer turismo num outro país, compramos mercadorias que são produzidas em outros países, exportamos mercadorias e com isso geramos empregos no nosso país, tudo isso parece normal. Tudo isso parece cotidiano, tudo isso parece óbvio. Mas tudo isso, que é a nossa vida diária, repousa sobre uma realidade que não é tão óbvia. Se nós olharmos para a história da humanidade, inclusive a história recente, nós vamos ver que os períodos de paz são excepcionais. Na realidade, o que sempre dominou foram períodos de guerra. E, cada vez, períodos de paz mais prolongados. Obviamente, desde a criação das Nações Unidas houve várias guerras: as locais, a do Vietnã, a da Coréia, houve várias situações na África, na Ásia em que houve conflitos importantes. Mas não houve, pelo menos, nenhuma guerra global. Não houve nenhuma guerra que envolvesse diretamente – DIRETAMENTE – um confronto entre as grandes potências. Claro que isso pode ser creditado a muitos fatos. Mas entre eles, pode ser creditado à existência das Nações Unidas. A existência de um lugar onde os problemas podem ser objeto da discussão, podem ser objetos da troca de idéias. Troca de idéias, alguém pode dizer que hoje ainda é presa, aguerrida, mas ainda assim troca de idéias, o que é sempre melhor do que a troca de tiros, de bombas e do que as explosões. E eu acho que isso, em boa parte, se deve à ONU. É muito comum ouvir das pessoas que criticam, seja a ONU diretamente, seja organizações especializadas como a Organização Mundial do Comércio, ou outras organizações que “lá se fala muito e se faz pouco”. Mas eu acho que há aí uma falta de percepção, e eu creio que o exercício de vocês nos próximos dias vai demonstrar isso, demonstrar vivencialmente para vocês, que justamente esse falar, esse discutir, esse debater é que evita problemas muito mais graves para o mundo. Só por aí, as Nações Unidas já seriam extremamente úteis, em permitir que os problemas fossem objeto de debates, que eles fossem verbalizados e não de reações brutais, não objeto de reações agressivas que causariam mortes e sofrimento como já causaram e continuam causando em escala muito maior a toda a humanidade.
Eu acho que esse já é um grande mérito, vocês estarem de alguma maneira ensaiando isso, poderem ver o que isso significa, me parece uma coisa muito importante. Outro aspecto que eu acho fundamental que vocês vão fazer – se é que eu imagino corretamente o que vocês vão fazer, mas supondo que sim – é a capacidade de ver o ponto de vista do outro. Alguém mencionou aqui a importância da negociação. Mas não há uma boa negociação se você não consegue perceber o ponto de vista do outro. Eu acho que esse exercício que vocês vão fazer – em que um representará os Estados Unidos, outro representará a França; outro provavelmente representará a Guiné-Bissau, o Haiti, países de tamanhos diferentes, de potencial diferente, de riquezas diferentes – esse exercício os vai obrigar a vivenciar o papel de países muito diferentes talvez daqueles que vocês vivem (imaginando que a grande maioria dos que estão aqui é de brasileiros). Isso é muito importante, porque essa capacidade de ver com os olhos de outros é que nos ajuda no momento de negociação a encontrar soluções. O objetivo de uma negociação, é claro, é sempre defender o nosso interesse, é sempre fazer com que o nosso interesse seja vitorioso; mas também fazer com que nosso interesse seja vitorioso sem que isso signifique humilhação para os nossos interlocutores, sem que isso signifique uma perda muito grande, sobretudo para aqueles que são mais fracos do que nós. Então, eu acho que o exercício em que vocês vão estar envolvidos tem esse mérito especial de permitir essa visão. Eu acho que isso também já seria um outro fator extraordinário importante.
Mas eu queria mencionar também dois ou três outros aspectos que me parecem importantes no que vocês vão fazer. Bom, um deles talvez não precisasse dizer, eu acho que foi mencionado pelo aluno que é o coordenador desse programa, que é a importância da política. Eles até citaram Ulisses Guimarães, pessoa com quem eu tive também o prazer, a honra de conviver. A política, muitas pessoas freqüentemente olham para a política e dizem “não, a política é uma coisa que não vale a pena, é uma coisa suja, é uma coisa que tem muitos golpes baixos” – e aliás, vamos dizer a verdade, esses golpes existem também, como existem em qualquer coisa da vida! Mas há também uma conspiração, eu diria, de fazer com que só apareça isso da política. E isso é muito ruim, porque a única maneira de nós melhorarmos a política é participarmos dela. Eu fui professor também de Ciência Política e Relações Internacionais na UnB, eu costumava dizer na época do governo militar “olha, você pode não se interessar pela política, mas eu posso lhe garantir que a política vai se interessar por você.” Então, é melhor que você procure tentar na política, e procure encontrar maneiras de melhorar a política. Procure tornar a política e a ética cada vez mais compatíveis, sendo realista também. Atuando dentro de realidades. Não adianta você ter uma ética ideal sua, num ideal longínquo, e uma realidade totalmente distante. O grande desafio, para quem faz política, não é só preservar os ideais – é claro que isso é muito importante – nem é, tampouco, ser um realista que apenas defende interesses materiais. É fazer a ponte entre as duas coisas. É ver a realidade que existe e procurar puxar essa realidade para uma ética, que é aquela realidade que nós desejamos atingir. E isso é verdade na política nacional, mas é verdade também na política internacional. Eu queria mencionar um outro aspecto que sempre me impressionou muito e que até para os colegas diplomatas – eu sou já aposentado, mas fui diplomata, e espero que aqui haja vários, muitos que serão ainda embaixadores durante as próximas décadas, com tantos desafios que essas décadas vão apresentar, em termos de desenvolvimento, em termos de mudança de clima, em termos de Direitos Humanos, igualdade racial, igualdade de gêneros – mas enfim eu me recordo de ter ouvido de colegas, mesmo os bem informados, observações do tipo “ah, isso é muito longe, isso não nos interessa”. Não é assim. No mundo em que nós vivemos, tudo nos interessa. O mundo em que nós vivemos é um mundo globalizado já há muito tempo. Muitas pessoas falam de globalização como se fosse um fenômeno muito recente, de agora. Claro, a computação, a realidade virtual, tudo isso é verdadeiro, esses fatores aceleraram em muito a globalização, mas ela já existia! Santos Drummond, quando criou o avião, foi um globalizador. A globalização, eu vou dar só um exemplo simples para vocês, eu gosto muito de literatura e recomendo muito a vocês que quando estudarem política e política internacional, não se limitarem só aos livros-texto. Leiam romances, vejam filmes – claro, sempre com um senso crítico – porque eu acho que eles revelam muita coisa. Vou citar aqui um pequeno exemplo, que me impressionou muito quando o li. Eu, quando tinha meus 17 anos, comprei um livro que era muito famoso na época, de um escritor americano chamado John dos Passos, que visitou o Brasil. Ele era de Chicago, que perdeu para o Rio de Janeiro agora [referindo-se à recente decisão do Comitê Olímpico Internacional pela sede dos jogos olímpicos de 2016]. Quando ele chegou a São Paulo – dizem que ele bebia muito – e quando ele abriu a janela do hotel em que estava, em São Paulo, ele disse “Uai, mas eu estou em Chicago!” bom, esse escritor escreveu um livro importante, chamado “Manhattan Transfer”, em português seria algo como “Transferência em Manhattan”. E tem um capítulo desse livro – que é um romance passado nos Estados Unidos – uma das personagens, uma mulher, lê uma manchete de jornal que diz “Sarajevo”. Ela mal consegue pronunciar a palavra, fica engasgada na garganta. Como vocês sabem, Sarajevo é a capital da Bósnia-Hezergóvina, e foi onde houve o atentado que ocasionou a Primeira Guerra Mundial. Curiosamente, eu li isso quando estava na ONU, fui embaixador na ONU durante quatro anos e ouvia comentários dos colegas meus que não se interessam muito por essa questão de Kosovo: “Está tão longe!” Não li o livro quando tinha 17 anos, li quando tinha 58 ou 59. Isso é só para ilustrar que não há realidade que nos seja alheia. Nós não sabemos se os problemas que nós temos vão começar em Cabul, se vão começar no Iraque, enfim, de uma maneira ou de outra eles vão estar perto. Infelizmente, um desses problemas que nós conhecemos gerou uma guerra mundial das proporções que teve a Primeira Guerra Mundial ou a Segunda. Isso gera impacto no preço do petróleo, o preço do petróleo gera impacto na inflação, e a inflação tem impacto no nosso cotidiano. Então, todas essas questões, de uma forma ou de outra, nos dizem respeito. Isso também é um passo importante, essa consciência de que a política internacional, por mais que pareça distante, de alguma maneira nos diz respeito. Então, já que nos diz respeito, nós também, de alguma maneira, temos que influir no curso dos acontecimentos. Influir como? Através dos instrumentos de mediação que nós dispomos. Alguns de vocês serão diplomatas talvez, poderão influir diretamente, ou políticos, que também poderão influir de maneira mais direta. Outros o poderão fazer através dos partidos a que venham pertencer, e outros poderão fazer com seu voto simplesmente. Mas a consciência de que a política, e inclusive a política internacional, é algo que nos diz respeito, eu creio que é fundamental.
Finalmente, vou fazer um último comentário sobre aquilo que acho nessa simulação que vocês vão fazer e que tem muito a ver com a política externa do presidente Lula – que eu também tento ajudar a executar – e tem muito a ver com alguns dos ideais que estão refletidos na carta do ministro Patrus Ananias de reforma social, de maior justiça, etc. Isso tem a ver com uma certa tensão, eu diria, que existe permanentemente na diplomacia, entre o interesse nacional e a solidariedade. Eu acho muito importante ter isso presente. Todo diplomata, ou todas as pessoas que lidam com as relações internacionais, não podem deixar de pensar no interesse nacional. Até porque, se nós não o fizermos, outros vão fazer e nós vamos prejudicar o nosso próprio país. Mas eu acho também que, da mesma forma que é um grande desafio vocês buscarem conciliar, fazer uma ponte entre a realidade que muitas vezes é incômoda, que muitas vezes não nos agrada e os ideais mais elevados, nós também temos que tratar de fazer uma ponte entre o interesse nacional e a solidariedade. Para tentar definir isso do ponto de vista teórico, eu vou ilustrar com a própria política externa que o governo Lula tentou fazer. A política externa brasileira, naturalmente se baseia em alguns preceitos, alguns princípios que são permanentes. Mas a maneira de executar, a forma de executar é que muda. E a política externa do presidente Lula dá grande ênfase na nossa região. A começar pela própria América do Sul, uma vez até um jornalista me perguntou “mas, Ministro, por que é que o senhor dá tanta importância à América do Sul?” E eu disse “Porque eu moro aqui.” Se eu morasse na Pampulha, eu daria importância à Pampulha; se eu morasse dentro do Hotel Copacabana Palace, eu vou dar importância ao Copacabana Palace, se eu morasse na Favela da Rocinha, eu daria importância à Favela da Rocinha. E como eu moro na América do Sul, tenho que começar dando importância para a América do Sul. O exercício da política externa e essa difícil tensão que é a defesa  do interesse nacional e da solidariedade começa na nossa própria região. Eu estou convencido de que isso é perfeitamente conciliável  até porque o interesse nacional coincide com os interesses da solidariedade a longo prazo, nós queremos uma região que seja pacífica, que toda ela se desenvolva. O Brasil tem fronteiras com dez países da América do Sul, e os outros dois também estão muito próximos  – então nós temos interesse em uma região que haja paz e prosperidade. Por isso também, nós temos que trabalhar constantemente para contribuir para o desenvolvimento. Não só o nosso, mas também o dos nossos vizinhos. Por exemplo, acabei de mencionar esse triste incidente no Haiti, o Haiti é um país tão pobre, mas indo ao Haiti descobrimos um pouco do Brasil. Por exemplo, você descobre que a religião praticada pela maioria dos haitianos é a mesma religião da Bahia; em país que aboliu a escravidão muito antes do Brasil. Sim, hoje tem alguns problemas – e nós podemos ajudar – mas é um país que deu passos à frente muito adiantes de outros países de todo o nosso continente. Essa é uma atitude que hoje se desenvolve com relação à África, hoje por exemplo, o presidente  Lula recebeu hoje o presidente Zuma da África do Sul – que país parecido conosco! Um país que tem desenvolvimento grande em muito setores, mas que ao mesmo tempo também tem muitas favelas, que luta pela justiça social, numa região conflituosa como a África. Então, acho que tudo isso é muito importante para a política externa. A razão é fundamental para a política externa, mas a emoção também não pode estar de todo alheia. Um dos momentos mais bonitos que vivi na política externa, acompanhando o presidente Lula, foi justamente quando nós visitamos a ilha de Gorée [Ilha da Palma, atualmente território senegalês] por onde passaram grande parte dos escravos que vieram para o Brasil. Um lugar semelhante, o portal do “não-retorno” [Monumento erguido em Benin em homenagem aos escravos que partiam ao Brasil], aí você sente a emoção efetiva, e aí você sente porque que nós temos que nos relacionar também com a África. Não é só interesse econômico – também há interesse econômico! – mas também esse sentimento profundo de solidariedade.
Então eu diria que o objetivo da ONU, o objetivo mais amplo, é a paz. Mas a paz também não se faz sem desenvolvimento, sem democracia, sem Direitos Humanos – de uma maneira muito concreta – sem a igualdade entre os povos, a igualdade entre as raças, igualdade entre os gêneros. Vocês vão discutir isso tudo nos próximos dias. Talvez discutam temas aparentemente menos nobres, desse ponto de vista mas igualmente importantes – como o comércio. Porque a integração comercial do mundo, se for feita em bases justas, e não predatórias, não exploratórias, ela também é fundamental para evitar a guerra. Porque na medida em que você quebra os interesses econômicos e os países passam a ter interesses comuns, eles pensam duas ou três vezes antes de começar um conflito armado.
Então, meus queridos amigos, meus futuros colegas – não sei se ainda estarei vivo, espero que sim – desejo que o debate de vocês nos próximos dias seja extermamente frutífero. Eu gostaria até de ter uma idéia, imagino que em alguns casos, num debate multilateral, vocês deverão estar produzindo resoluções, decisões. Eu gostaria de receber um pouco, quem sabe, isso serve de inspiração, porque eu acho que nós sempre temos que humildade de aprender, e sobretudo de aprender mais com os mais jovens. Muito Obrigado.

Discurso de Abertura

Meus caros, leiam na íntegra o discurso de abertura proferido pelo Secretário-Geral Gabriel Pimenta.

“Caros integrantes da mesa, companheiros e colegas do curso de Relações Internacionais, senhores embaixadores.

O mundo, como não poderia deixar de ser posta sua condição de eterno teatro das contradições, mudou demais e não mudou quase nada nos últimos dez anos. Nosso país passou de Estado convalescente, vítima de um inexorável desmando econômico global, a peça-chave na necessária refundação do sistema financeiro mundial; uma ilha de estabilidade em meio à turbulência que abala fortemente a grande maioria dos Estados tidos como desenvolvidos. Era restrita a muito poucos a discussão sobre uma efetiva ascensão asiática ao cume do poder, e negligenciava-se a possibilidade do soerguimento de um ator importante cujo modelo de sociedade fugisse daquele canonizado no Ocidente. Hoje o Oriente avança com apetite pantagruélico por sobre toda a extensão planetária, dando provas incontestes de sua pujança militar, econômica e, porque não, civilizacional. O embate religioso, que parecia confinado a certos grotões, onde homens isolados do mundo lutariam em prol de exegeses equivocadas, passou por um recrudescimento, e hoje mobiliza os mais empenhados esforços físicos e intelectuais, justificando tanto uma torpe tentativa de isolamento cultural quanto uma igualmente extemporânea expansão imperial. Os meios de comunicação, já avançadíssimos uma década atrás, passaram por uma explosão nunca antes vista, matando o espaço em detrimento dum tempo cada vez mais rápido, e exigindo uma urgente reformulação dos conceitos de inclusão, democracia e ativismo político.

Por outro lado, encontramo-nos congelados em uma série de outros aspectos, muitos deles quintessenciais para a existência humana. Fronteiras físicas, não poucas definidas de modo completamente arbitrário, ainda vitimam povos, segregados ou unidos contra sua própria vontade; e definem os rumos da geopolítica, cujos efeitos se fazem sentir de modo cada vez mais contundente por sobre um número cada vez maior de pessoas. Existe ainda um pólo planetário de poder material e ideológico, detentor da capacidade de legitimar ou não atos e ideologias, gerando assim um deletério desequilíbrio nas perspectivas que ajudam a entender, e portanto construir, a realidade. Persiste, e lamentavelmente cresce, a massa de seres humanos marginalizados, uma vez que não detêm recursos econômicos mínimos, e são postos fora daquilo que é considerado sociedade pela torpe lógica do mercado. Ainda pior, vivem milhões de seres humanos vitimados pelo cruel autoritarismo em suas várias formas, alijados daquilo que é mais importante, seus direitos políticos e sociais.

Porém, existe algo que ao mesmo tempo é imutável e passa por constante renovação. O ser humano, gregário, mas também dotado de necessidades, vícios, virtudes e paixões individuais, necessita equacionar o dilema do convívio público, e para tal inventou a ação política, diferente a cada piscar de olhos, mas permanente ao longo da história. É por isso que estamos todos aqui esta noite. Porque dez anos atrás um grupo de jovens adultos, estudantes da amada e temida política, teve uma idéia simples, mas de avassaladora novidade. Eles resolveram estender seu interesse na tal política a um grupo ainda mais jovem, através de uma proposta inédita no país, na qual o conhecimento seria absorvido de modo compreensivo, partindo de seu princípio e terminando em seu fim, como o verdadeiro conhecimento deve ser feito.

As pessoas que abraçassem tal idéia deteriam efetivamente a capacidade de formular aquilo que lhes foi proposto entender. E isto é simplesmente brilhante, porque a partir do momento em que se transmite o interesse na política aos adolescentes, transmite-se também o fogo de Prometeu, e o vigor flamejante da educação aquece aqueles por ela tocada, movendo em frente o mundo, cada vez mais instruído, culto e inclusivo.

Há dez anos os modelos eram ainda um tipo novo de atividade no país, e ainda é razoável o número de pessoas que desconhecem suas propostas. Mas estava claro, para os fundadores e apoiadores de primeira hora do MINI-ONU, que havia naquele ideal de educação cívica e formação cidadã, uma vitalidade e frescor que certamente perdurariam. Transmitir e simular a realidade dos organismos internacionais, fóruns a princípio tão distantes da realidade dos estudantes secundaristas, era, e continua sendo, uma atividade visionária, imprescindível para os que sonham com um futuro. Se possível, um futuro melhor.

O sucesso do MINI-ONU em sua escala e tempo é prova cabal de que o interesse na vida política existe em todos, basta ser desperto, e que não são poucos aqueles que almejam um amanhã mais brilhante. Não à toa, por dez anos consecutivos, centenas de jovens adultos e adolescentes constroem este que é o maior modelo da América Latina, e saem do evento maiores, inebriados da fundamental política.

Portanto, façamos política. Façamos política intensamente nos próximos quatro dias, em negociações aguerridas, conquistas e concessões inimagináveis; discursos afiados, porém polidos. Adotemos ferrenhamente um nacionalismo postiço, sentindo nas veias o sangue tingido nas cores das bandeiras nacionais, mas sejamos também cônscios de que a humanidade é indivisível. Mesmo quando uma enormidade de pessoas é beneficiada, e isto se dá em prejuízo de apenas uma, este ganho é espúrio e abjeto. Como colocou Ulysses Guimarães, figura ilustre da República Brasileira, façamos política não com ódio, pois política não é função hepática. Política é sim filha da consciência, irmã do caráter, e hóspede do coração. Façamos política.

Declaro então aberto o MINI-ONU 10 Anos.”

Está chegando

Meus caros,

muito possívelmente este será o último texto antes do início do MINI-ONU. E ele tem como objetivo apenas lembrar a todos que

FALTAM MENOS DE 24 HORAS PARA O MINI-ONU 10 ANOS!

Presença ilustre

Caros,

como é de conhecimento dos senhores, teremos uma Cerimônia de Abertura especial, a ser realizada no Minascentro, no dia 9. Além das homenagens aos 10 anos do evento e do sempre badalado coquetel, teremos este ano uma presença ilustríssima. Às 19:30 o excelentíssimo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim, fará uma breve conferência aos delegados e membros da organização.

Ou seja, não percam!

Faltam sete dias!

Olá a todos!

Texto breve hoje, apenas para lembrar a todos que as regras devem estar decoradas, os DPOs prontos, e os discursos preparados, pois faltam só sete dias pro início do MINI-ONU!

Ps: parabéns a todos nós, pela escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016!

64ª Assembléia Geral

Caros,

para os que não acompanharam o noticiário esta semana, aviso importante: teve início hoje a 64ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Ou seja, discursos quentinhos feitos por dezenas de chefes de estado. O Estado de São Paulo está cobrindo o evento neste link, e a ONU sempre disponibiliza os discursos neste link. Pra quem quer saber do estado da arte das políticas externas (ou só completar um DPO), informações valiosíssimas.

Primal Times

Caros delegados (e também jornalistas),

um dos traços mais marcantes da sociedade hodierna é a velocidade atingida pelos meios de comunicação. Atualmente é possível acompanhar os mais diversos fatos ocorridos em todo o mundo em tempo quase instantâneo, e não à toa, pela velocidade e volume cada vez maior de dados circulantes, alguns dão aos tempos atuais a alcunha de “Era da Informação”.

Sendo a informação tão importante, é óbvio que o MINI-ONU não poderia deixar de ter seu próprio canal de comunicação. O Primal Times é o jornal oficial do evento, através do qual serão divulgadas as novidades sobre os comitês, notícias que poderão influenciar o curso das discussões, e informações gerais do evento. Anteriormente escrito por voluntários do curso de Relações Internacionais, hoje o jornal é escrito em colaboração entre alunos do ensino médio e estudantes de Jornalismo.

Esta é uma tentativa de abranger ainda mais a realidade simulada, uma vez que cada vez mais a sociedade tem papel ativo nas negociações governamentais, e grande parte dessa atuação se dá através da mídia. Portanto, se vocês estão em sintonia com a tal “Era da Informação”, e buscam informações atualizadas, estejam atentos ao Primal Times nos dias do evento!

Documento de Posição Oficial – parte 2

Segue abaixo um exemplo de DPO, da República de Hatay debatendo na Organização Mundial de Saúde sobre aquestões culturais sobre as drogas ilíticas – as palavras em negrito são comentários sobre o própósito de cada trecho.

“A República de Hatay está grandemente satisfeita com a possibilidade de participar nas discussões sobre os dilemas culturais concernentes ao uso de drogas ilícitas, uma vez que este é um assunto tremendamente sensível em nossa história, e sentimos que nossas experiências passadas podem trazer esclarecimento ao mundo. Drogas são uma ameaça que pode ferir toda a humanidade, promovendo deterioração de saúde, degradação moral e colocando em risco o desenvolvimento, e pretendemos alcançar assim um abrangente acordo que classifiquem tais substâncias como o perigo real que elas representam. (Apresentação, delineia brevemente e em termos abstratos  a posição nacional)

Dentre nossos princípios de política externa, dois podem ser citados como os mais relacionados ao assunto a ser debatido. Primeiro, nós respeitamos e seguimos a idéia de uma coexistência pacífica, através dos meios de cooperação e igualdade. Logo, nossa ação será direcionada rumo um mundo no qual qualquer ser humano, não importando seu local de nascimento, esteja livre da iniqüidade e maldade das drogas. Segundo, nós respeitamos e seguimos a solidariedade entre países em desenvolvimento, os mais vulneráveis aos efeitos negativos do imperialismo e colonialismo. Este tema é estritamente relacionado ao nosso passado, no qual poderes colonialistas fizeram uso de um antigo hábito – o consumo de haxixe, o qual foi abandonado após todo o sofrimento causado – para promover a opressão e exploração econômica contra nosso povo. (Citação dos princípios da política externa do país relacionados ao tema, define qual será a orientação principal do país durante as discussões)

Portanto, a República de Hatay irá pleitear neste encontro uma extensão de suas bem sucedidas políticas relacionadas às drogas ilícitas. Desde 1934 um massivo esforço tem sido feito para erradicar o cultivo de haxixe no país, e seus resultados são dignos de nota. Além do mais, uma severa, porém justa legislação cobre os crimes relacionados às drogas, dentre eles o tráfico e produção de drogas ilícitas. Em 1990 o governo criou a Comissão Nacional de Controle de Narcóticos, que, composta por membros de diversas secretarias e ministérios, centraliza o trabalho de controle das drogas. Sua agência operacional é o Bureau de Controle de Drogas, presente nas sete províncias do país, e em quase todas as municipalidades. (Como este é um tema que não se restringe ao âmbito internacional, é necessário incluir este trecho que versa sobre quais as políticas internas voltadas ao assunto)

No âmbito internacional, o país é um ativo apoiador de todas as medidas tomadas para o combate às drogas. Em 1978 ratificamos a Convenção sobre Narcóticos de 1961, e no mesmo ano fizemos o mesmo com a Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971; Em 1989 nós ratificamos a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Narcóticos e Substâncias Psicotrópicas. Desde o estabelecimento do Dia Internacional contra o Uso de Drogas e Tráfico Ilícito, a República de Hatay tem se mostrado uma grande apoiadora da iniciativa. No âmbito regional, desde 2002 o país possui um programa conjunto com a ASEAN para o intercâmbio de experiências no combate às drogas. (Exposição das ações tomadas na esfera internacional relativas ao tema, necessária para ‘mostrar serviço’, por assim dizer)

Documento de Posição Oficial

Caros,

antes de mais nada, peço desculpas pelo longo tempo sem atualizações. Uma série de eventos de Relações Internacionais realizados Brasil afora deixaram o editor desta página ocupado no último mês, mas devemos voltar agora à nossa programação normal.

Recebemos alguns comentários questionando sobre como fazer um Documento de Posição Oficial, ou DPO para os mais íntimos. Portanto, seguem algumas considerações sobre a confecção deste objeto de tanta controvérsia no mundo modeleiro.

Antes de tudo, destrinchemos o nome. Um Documento de Posição Oficial é algo impresso, emitido pelo estado representado, e que contém as diretrizes adotadas pelo país quanto ao tema abordado. Logo, se a República de Hatay vai à UNESCO discutir sobre bens culturais intangíveis, o DPO entregue pelo delegado responsável trará as medidas que o país adota, nacional e internacionalmente, sobre os bens culturais intangíveis.

Logo, um DPO não revisa toda a política externa do país através da história, à não ser que essa passagem seja essencial para o tema em questão. E de forma alguma um DPO pode se transformar em guia turístico – infelizemente essa prática é recorrente, e os diretores são obrigados a lerem páginas e mais páginas sobre a geografia de um determinado país, sendo que o tema do comitê não tem absolutamente nada a ver.

Outras dicas importantes:
-Um DPO não pode ultrapassar uma página, logo, usem o poder de concisão.
-Identifiquem bem tanto qual é o país representado, como o nome do delegado e do colégio.
-Se possível, utilizem o brasão do Ministério das Relações Exteriores do país no alto do documento.

E por hoje é só. Abraços a todos!